por Karine Rosa
Ainda doía quando escrevi. Já reparou que coração partido faz isso?
Rende música. Texto. Quadro. Fotografia. No mínimo, um dia em silêncio,
debaixo das cobertas, acalmando a alma e vendo filmes que, antes, a
gente não tinha tempo, ou vontade, ou disposição pra ver. Olha só que
coisa bonita essa: até o seu fim me rendeu alguma coisa.
Eu não sou dessas pessoas que mendigam atenção. Que dirá implorar
amor, essa coisa que a gente não controla, não é? Prefiro ser abandonada
a viver a ilusão eterna de um amor que não existe. Ou ajoelhar e pedir
que, por favor, pelo menos finja. Fica, tenta, vira aí alguma chavinha
que te faça me amar. Não, eu não sou dessas. Ou fica porque quer ou vai
sem nem pensar.
Li em algum lugar esses dias que a gente conhece mais alguém pelo
jeito que ele vai embora, não pela maneira que chega. Tive que
concordar. Afinal, quem chega tem sempre um sorrisinho, uma frase amiga,
uma simpatia exagerada. Quem chega tenta maquiar defeitos, esconde os
buracos, tampa as imperfeições. Quero mais é saber do caráter de quem
vai no meio de lágrimas, gritos, pratos quebrados, brigas, bebidas, e
juras de “eu nunca mais quero te ver”. É disso que eu quero saber.
Tenho de admitir que, no meio do caos todo, você se manteve você. Fui
eu que quebrei. Despedacei. Achei que cê era super bonder, quando, no
fundo, não passava de cola tenaz. Mas olha só: cê me rendeu meia dúzia
de textos, compartilhamentos no Facebook, seguidores no Twitter, elogios
até da minha mãe.
Por isso, vai. Vai com Deus e vai com calma. Numa boa. Tá tranquilo.
Pode ir sem nem olhar pra trás, que aqui eu trato de me remendar. De
novo e de novo e de novo, quantas vezes precisar.
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