por Bruna Vieira
Conheço uma garota que conheceu um cara. Eles se tornaram amigos há
algum tempo. Ótimos amigos, aliás. Saiam para beber de vez em quando.
Encontravam-se no metrô sem querer. Conversavam sobre tudo, de um jeito
que ninguém mais entendia. E as pessoas gostavam de tentar fazer isso o
tempo todo.
Ele, um louco. Ela, uma apaixonada por loucos.
Essa tal garota falava, escrevia e tatuava tudo o que bem entendia. E
o que não entendia também. Dragões. Rosas. Flores. Corações. O
infinito. Buscava resposta nas páginas dos livros. Diziam que ela estava
perdida no labirinto que criou antes de dormir. Draminha. Mas eu, que
me identifico com na maioria das vezes, chamo isso de sentir e assumir
sem ter uma gotinha de medo. Queria ser um pouco assim. Você também.
O garoto, pelo que me contaram, ainda não sabia lidar com um monte de
coisas. O passado. Havia uma lista abandonada na segunda gaveta do
armário. Última página do bloquinho. Poucos nomes, uma ordem.
Em uma noite qualquer, vulneráveis como sempre, eles se beijaram.
Uma. Duas. Três vezes. Parecia tão simples. Coisa de centímetros. Entre
as cadeiras. Depois, entre os lábios. Ele não tinha muita certeza. Ela
nem se importava.
Agora as coisas entre eles estão meio bagunçadas. Indiretas coladas
na parede da sala. Ele apagou a luz. Esta ali, mas não quer ver. Acho
que não quer machucá-la. Não quer perder a amiga, mas também não quer
ver a amiga sofrer para sempre. É a vítima e o culpado ao mesmo tempo.
Quanto tempo de espera? Ela quis saber.
Como ele não diz, digo eu: Não existe resposta. Existe pôr-do-sol. Um depois do outro.
Gosto da garota e admiro o garoto. Quero que eles sejam felizes. Como
amigos, como amantes, como almas que se entendem. Dia sim, dia não.
Enquanto valer a pena.
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